A Madre Tereza Margarida tem um lugar especial no meu coração e na minha vida. Sempre tive por ela um grande apreço pela suas qualidades, pelo seu amor ao Carmelo e pela sua mente “aberta”, cheia de entusiasmo e de vida. Soube na verdade sentir a hora certa de mudar muitas coisas e a hora certa de manter tradições da Ordem que têm o sabor de carisma teresiano. Não pretendo fazer um artigo sobre a fundadora do Carmelo de Três Pontas. Haverá, sem dúvida, pessoas que irão fazer isto com competência. Somente vou relembrar como “beija-flor” os fatos que me vêm na cabeça e especialmente o que está dentro do meu coração.
Parece-me que conheci a Madre Tereza Margarida lá pelos anos 1979 ou 80, numa visita que fiz ao Carmelo de Três Pontas. Era recém chegado em São Paulo de Caratinga, minha terra amada que me deu raízes brasileiras. E fui, não me recordo com qual frade, indo para Belo Horizonte passamos por Três Pontas. Fomos acolhidos como verdadeiros irmãos, com muitas atenções e delicadezas. E, coisa rara naquele tempo, ela nos abriu as portas para que pudéssemos entrar e estar com as nossas Irmãs. Foi um “susto” santo, mas não deixou de ser um susto que depois se transformou em alegria. A Madre Tereza tinha uma liberdade de espírito muito grande, sabia reconhecer a hora em que alguma coisa devia ser feita para poder viver o novo entusiasmo do Concílio Vaticano II. Não era de forma alguma uma monja “relaxada”, amava profundamente o Carmelo, sua espiritualidade. Sabia infundir com sábia pedagogia nas Irmãs o amor à oração e clausura. Mas na sua opinião achava que ser Irmã no Carmelo era também “partilhar”, na medida do possível, a vida, rezar juntos, estar juntos.
Hoje em dia isto não suscita mais maravilha, embora devamos saber respeitar os que pensam diferentemente e, não porque não admitem os irmãos carmelitas na clausura, nos amam menos. Não é isto que quero dizer. Simplesmente queria colocar em evidência o espírito de liberdade da Madre Tereza Margarida.
“O sábado é feito para o homem e não o homem para o sábado.” Talvez estas palavras de Jesus venham ao caso para poder contemplar esta monja que tinha sabedoria, cultura, bom senso e sobretudo uma grande vida interior. Era de uma oração excepcional e isto o manifestou ao longo de sua vida. Numa última visita que eu fiz à Madre Tereza doente, tive a impressão de alguém que já falava coisas de céu e estava bem mergulhada no mistério de Deus, numa constante e perene adoração. Não me maravilharia se um dia se iniciasse o processo de canonização desta monja carmelita que foi mestra e pedagoga dentro e fora do Carmelo.
Três Pontas deve muito à Madre Tereza Margarida. Ao longo cinquenta anos (50) de existência do Carmelo na cidade mineira a Madre Tereza Margarida exerceu um autêntico magistério espiritual. Ela soube cativar com seu sorriso, com seu jeito “mineiro teresiano” o povo, os sacerdotes, as pessoas da alta sociedade e os pobres. Para todos tinha uma palavra amiga, inspirada no evangelho e no convite à oração. O Carmelo na cidade de Três Pontas é ponto referencial, é o lugar preferido para a oração, é onde tem sempre uma Irmã pronta para escutar, aconselhar. O Carmelo pertence ao povo e isto era muito a dinâmica e a visão da Madre Tereza Margarida, chamada por todos “Nossa Mãe”.
Eu pessoalmente gostava de chamá-la de minha “mãe e mestra”. Muito aprendi na escola dela: o seu jeito, a sua espiritualidade, a sua simplicidade encantadora. Era uma conselheira de primeira qualidade que sabia intuir os momentos difíceis das pessoas e dava o “remédio certo” para que nas dificuldades não desanimassem no caminho da virtude.
A Madre Tereza Margarida pertenceu àquele grupo seleto de pessoas que no Carmelo brasileiro foram pontos referenciais para tantas pessoas e para tantos Carmelos. Precisamos não deixar morrer a memória destes faróis e apontá-los para a juventude como modelos de vida humana e carmelitana.
O Carmelo brasileiro muito deve a esta monja. Ela soube também instaurar uma fraternidade muito bonita entre o Carmelo da antiga observância ou “calçado” e o Carmelo Teresiano. Os cursos dados pelo Padre Boaga sem dúvida foram algo de marcante no estudo da história carmelitana.
Muitas são as coisas que poderíamos dizer dela. Gostaria de dizer dela o que os primeiros discípulos e cristãos diziam de Jesus: “ela passou fazendo o bem a todos!”
FREI PATRÍCIO SCIADINI, o.c.d