O dia 15 de julho, é uma data muito significativa, pois foi nesse dia, em 1962, exatamente há 61 anos, que Madre Tereza Margarida do Coração de Maria chegou em Três Pontas com o grupo de Irmãs fundadoras para fundar o Carmelo São José.
A data se tornou ainda mais especial e agora conhecida, pois na manhã fria deste sábado, o estandarte de Nossa Mãe entrou na Igreja Matriz Nossa Senhora D’Ajuda, assim como a mais 60 anos atrás. No dia 16 de julho, as 8:00 da manhã, houve a Missa e a benção da Casa, onde estava fundado o Carmelo São José da Diocese da Campanha, na cidade de Três Pontas.
Começava a trajetória da monja que se tornou a “Nossa Mãe”. Não foi acaso que ela ganhou este título. A Madre que foi mais que Priora, foi uma mãezinha de muitas pessoas que buscavam suas orações, orientações e uma palavra de conforto, sempre de acordo com as sagradas escrituras.
Procissão e missa
A cerimônia que oficializou o título de Venerável, declarado pela Igreja em 20 de maio deste ano, passo importante no processo de beatificação, começou onde ela viveu. Lá, trespontanos, carmelitas de outros mosteiros, sacerdotes e moradores da região iniciaram as orações na Capela. O Cônego Douglas José Baroni deu início as festividades que foram focadas também na novena da Festa de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Diocese da Campanha e rezada pela vice priora do Carmelo, a Irmã Maria Elisabeth da Trindade a Ladainha de Nossa Senhora.
A religiosa falou que a novena deste ano em honra à Virgem do Carmo foi envolvida por uma grande alegria para elas. As Irmãs que vivem na clausura, meditaram as virtudes da Virgem Maria e ao mesmo tempo, experimentaram o grande júbilo do reconhecimento das virtudes de sua dileta e querida filha a Venerável Madre Tereza Margarida, a Nossa Mãe.
Relembrar o que o caminho começou no estado de São Paulo. “No dia 15 saímos de Aparecida como estava programado por Monsenhor Mesquita. A grande imagem de Nossa Senhora do Carmo da Catedral de Campanha foi buscar-nos. Passamos na Basílica para despedirmo-nos de Nossa Mãe e Rainha e pedir lhe a bênção para a viagem e para o novo Carmelo. Saindo de Aparecida, Monsenhor Mesquita entoou e nós cantamos com muito fervor “Viva a Mãe de Deus e nossa.”
Rumaram para Três Pontas, onde um grupo de amigos as esperavam. Formou-se na Praça da Matriz, um cortejo de carros, para a chegada na cidade. O carro de Nossa Senhora do Carmo ia na frente. Ao chegar na Praça, Monsenhor João recebeu-as delicadamente na porta da Matriz, onde houve a Missa. Era a festa de Nossa Senhora do Carmo. O Carmelo começou em uma casinha minúscula e pobre, arranjada por benfeitores com todo carinho.
Nesta nova data significativa para o Carmelo, a procissão para a celebração solene teve a participação das irmãs. As monjas Carmelitas e algumas Beneditinas seguiram em fila pela Avenida Ipiranga em direção ao Santuário Diocesano. Uma das vias mais movimentadas de veículos da cidade, deu lugar às pessoas a pé, concentradas em oração, pela fé na Madre que na clausura marcou a história do povo que a adotou.
No trajeto conduzido pela Guarda Civil Municipal (GCM), sentiram o calor humano dos moradores, que das fachadas e marquises de casas e prédios enfeitados nas cores branca e amarela, com flores e imagens demonstravam tão quanto especial foi este momento. A frente veio o estandarte de Nossa Mãe, confeccionado pelas Irmãs do Carmelo de Patos de Minas.
As 9:08, o cortejo chegou na Praça Cônego Victor, na Igreja onde estão os restos mortais do Beato Padre Victor, outro candidato a santo. O soar dos sinos e os cânticos do Coral Ânima Christi emocionou a todos que chegam e aqueles que já aguardavam na Igreja para presenciar tão grande acontecimento na história do Carmelo, da Igreja e do Município. Familiares de Nossa Mãe ocuparam as primeiras fileiras de um dos lados de frente ao altar. Do outro ficaram as irmãs, agraciadas por olhares atentos às suas presenças.
Na celebração presidida pelo bispo diocesano Dom Pedro Cunha Cruz (foto) e concelebrada por Dom José Magela, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, ele usou da homilia para dizer que a missa de ação de graças pela venerabilidade de Nossa Mãe é por tudo aquilo que ela representa, não somente na cidade de Três Pontas, mas também em todas aquelas que ela tinha relações onde de filhos e filhas. Dom Pedro explicou que quando se abre um processo, inicialmente de beatificação e depois de canonização é muito importante, segundo a a Congregação da Causa dos Santos, que um dos traços seja o apelo popular. Isto significa que a pessoa, o candidato à santidade, a ser beato ou santo, que já tenha traço de santidade na trajetória de sua vida e não depois de morto.
Com isso a Servo de Deus, agora é classificada com Venerável. Nossa Mãe agora pode ser venerada e invocada pelos fiéis. Os devotos podem pedir a sua intercessão e ver na sua vida um exemplo a seguir.
Relatos da santidade
A vice priora Irmã Elisabeth falou no final da celebração, que Nossa Mãe, viveu em Três Pontas durante 43 anos e aqui se santificou. Enfrentou grandes dificuldades e sofrimentos ao fundar o Carmelo São José. Em suas memórias registrou: ‘este Carmelo foi construído, não com dinheiro, saúde, palavras, ou cartas, mais sim com o sangue no nosso coração”, palavras fortes que demonstram toda a grandeza de sua alma”, definiu.
Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho, bispo emérito da Diocese da Campanha, acompanhou o início do processo de Nossa Mãe. Ele revelou que achava muito cedo, 5 anos depois da morte da religiosa pedir a introdução da causa em Roma, mas a fama dela de Santa o animou, pois já havia a consideração do povo. Na opinião dele, a causa teve rapidez demais, até mais que duas que se iniciaram em 1973. Nossa Mãe, ganhou o reconhecimento pois orava, aconselhava e se sacrificava, sempre com sorriso nos lábios.
Dom Diamantino voltou no tempo e contou que na Semana Santa de 1998, ele era bispo eleito e antes de tomar posse foi ajudar nas celebrações em Campanha. Um deles, padre Nelson que trabalhava em Três Pontas, sobrinho do saudoso Padre Antônio, que foi pároco em Três Pontas, lhe trouxe aqui e ele almoçou com as Irmãs. Padre Nelson disse para que ele viesse conhecer Nossa Mãe porque logo ela iria morrer. Ela ainda viveu sete anos.
Depois de se aposentar, Dom Diamantino morou na casa que foi cedida pelas Irmãs do Carmelo. Ele celebrou missa para as Carmelitas todos os dias de manhã, antes da pandemia. Conheceu ao longo do seu bispado muitas pessoas, fez muitas amizades e considera muitos leigos que ajudaram na Igreja verdadeiros santos. Declarou seu amor pela Diocese e pelas cidades do Sul de Minas, pois descobriu aqui não apenas nos padres, mas sinais da santidade nas comunidades por onde passou.
Decreto sobre as Virtudes Heróicas
Maria Luiza Resende Marques, a Serva de Deus Teresa Margarida do Coração de Maria, ingressou no Carmelo de Mogi das Cruzes em 29 de maio de 1937. Em 21 de junho de 1937 foi-lhe dado o nome de Irmã Tereza Margarida do Coração de Maria. Em 16 de janeiro de 1938 aconteceu a sua vestição religiosa; fez a profissão simples no dia 2 de fevereiro
de 1939 e em 2 de fevereiro de 1942 a profissão solene.
Desde o início Irmã Tereza Margarida se destacou pela profunda espiritualidade e qualidades interiores. A Serva de Deus desempenhou os ofícios de Mestra de Noviças,
Sub-Priora do Mosteiro, porteira e organista. A pedido da Diocese da Campanha, a Serva de Deus, juntamente com sete Irmãs, no dia 16 de julho de 1962, deu inicio a um Mosteiro em Três Pontas.Também aqui exerceu os ofícios de Priora, Sub-Priora, Mestra de Noviças.
Com a idade avançada, não se poupando às exigências do Mosteiro e à escuta dos numerosos fiéis que a procuravam, começaram a se manifestar os primeiros sintomas da doença que, lentamente a levou a morte que chegou no dia 14 de novembro de 2005 em Três Pontas, dia em que a Ordem Carmelita celebra liturgicamente todos os seus Santos.
O Inquérito Diocesano decorreu de 4 de março de 2012 a 12 de maio de 2013, junto a Cúria eclesiástica da Campanha, cuja validade jurídica foi reconhecida por este Dicastério pelo decreto de 28 de março de 2014. Preparada a Positio, foi analisado, segundo as normas canônicas, se a Serva de Deus exercitou as virtudes cristãs em grau heroico. Com resultado positivo, no dia 9 de junho de 2022 realizou-se o Congresso Peculiar dos Consultores Teólogicos. Assim também os Cardeais e Bispos, na sessão ordinária de 18 de abril de 2023, reconheceram o heroico exercício das virtudes teologais, cardeais e afins por parte da serva de Deus.
O Cardeal Prefeito relatou todas essas coisas ao Sumo Pontífice Francisco. Sua Santidade, aceitando e confirmando os votos do Dicastério para as Causas dos Santos, declarou as virtudes teologais de Fé, Esperança e Caridade, tanto a Deus como ao próximo, assim como as cardeais Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza, e as virtudes anexas, no grau heroico, da Serva de Deus Teresa Margarida do Coração de Maria (no século Maria Luiza Resende Lopes), religiosa professa da Ordem das Carmelitas Descalças. O Sumo Pontífice ordenou então que o decreto fosse tornado público e registrado nos arquivos do Dicastério para as Causas dos Santos.
Esta é parte do texto do Decreto lido pelo pároco Cônego Douglas durante a celebração solene. É o chamado “Dicastério para as Causas dos Santos”, que é uma prefeitura da Cúria Romana que processa o complexo trâmite que leva à canonização dos santos, passando pela declaração das virtudes heroicas e pela beatificação.
O documento datado em 20 de maio de 2023, é assinado pelo prefeito da Causa dos Santos, o Cardeal Marcello Semeraro e o secretário Fábio Fabene.